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01 fevereiro, 2007

1 de Fevereiro de 1908- Morre D. Carlos I, penultimo Rei de Portugal.

A 1 de Fevereiro de 1908, no regresso de mais uma estadia em Vila Viçosa, o rei D. Carlos e o princípe herdeiro D. Luís Filipe, são assassinados em pleno Terreiro do Paço. De um só golpe, Costa e Buiça, decapitavam a monarquia portuguesa, deixando o trono nas mãos de um inexperiente D. Manuel, sem capacidade nem margem de manobra para gerir uma situação política explosiva que culminaria com a queda da monarquia e a implantação da República a 5 de Outubro de 1910.

No vasto estuário, desde os confins do Mar da Palha, frente a Cacilhas já se vislumbra os contornos do barco que todos esperam naquele momento. É o vapor D. Luís, que trás de volta à capital a família real que rege os destinos do País legado por D. Afonso Henriques em 1143.
O rei D. Carlos regressa de férias em Vila Viçosa onde fora caçar numa das suas propriedades da Casa de Bragança. O paço ducal de Vila Viçosa, um dos maiores palácios portugueses é o preferido para as férias da família real, sobretudo durante a época da caça
Em Vila Viçosa, D. Luís Filipe acompanha os pais, a caminho da carruagem que os leva a todos à estação do caminho-de-ferro. D. Carlos deixa o traje civil e enverga a farda de generalíssimo; a tarja escarlate da gola cinge-lhe os refolhos da nuca e do duplo queixo; a pala do boné carregada para os olhos dá-lhe uma severidade exagerada.
O régio casal e o seu filho mais velho partem da gare da vila alentejana pelas 11 horas e 40 minutos da manhã a caminho do cais fluvial do Barreiro.
Já no comboio, o casal régio segue em silêncio, entregue aos seus pensamentos. E reparando que o pai ainda não acendeu hoje um único charuto, ele que é inseparável dos seus «Aquilas» e considerado o rei mais fumador da Europa, D. Luís Filipe sente que alguma coisa excepcionalmente grave preocupa o soberano.
O navio D. Luís encontra-se, agora, frente ao Terreiro do Paço. Na viagem de comboio, um descarrilamento à entrada estação de Casa Branca alterara a hora de chegada. Rapidamente aproxima-se do cais de desembarque. Um apito seco ordena o afrouxamento da marcha. Os guindastes das passadeiras, com dois homens à manivela, aprestam-se para franquear aos recém-chegados as suas pontes levadiças.
No Terreiro do Paço tudo parece tranquilo, do lado oriental da praça o movimento é o normal àquela hora da tarde; do lado oposto, o enfiamento da Rua do Ouro que vai até ao cais fluvial, está vedado ao trânsito de veículos para dar passagem, dentro em breve, às carruagens do rei e do seu séquito. Ali há gente pelas janelas dos ministérios, gente ao longo da arcada, gente em grupos no passeio da placa central, junto às árvores e aos quiosques de venda de jornais.
Vem à frente a rainha, seguida pelo rei e pelo príncipe real. D. Amélia logo se encaminha ao encontro do filho mais novo, para o beijar com ternura. D. Luís Filipe e o irmão abraçam-se. D. Carlos corresponde às continências militares, recebe os cumprimentos dos ministros e dos fidalgos, ouvem-no dizer ao chefe do Governo, João Franco, que siga com a comitiva e que vá direito ao palácio. Não demoram mais de um quarto de hora os cumprimentos. O conde de Figueiró anuncia que tudo está pronto para a partida. A família real sobe para o landau. O príncipe é o primeiro a subir. Sobe depois o infante, o rei em seguida - e os três conservam-se de pé nos seus lugares, aguardando a subida da rainha. Esta sobe, ramo de flores na mão, na face um sorriso enigmático.
Sentado o rei à esquerda da rainha, enquanto em frente fica o seu filho mais velho, ao lado do qual se senta D. Manuel, o cortejo põe-se, finalmente em marcha.
De súbito, do lado da praça, quase em frente do Ministério da Fazenda, agora estação dos CTT, ouve-se o estalido seco duma primeira detonação.
Às cinco horas e vinte minutos, o comando dos Bombeiros de Lisboa recebe do posto n.º 8 a seguinte mensagem: «Ouvimos agora muitos tiros aqui no Terreiro do Paço. Próximo do Ministério da Guerra há muita gente em alvoroço. Foi o desembarque de Suas Majestades. Bombeiro 231.»
Um homem de longo varino e barbas, vindo da placa central do Terreiro do Paço, tira uma carabina da capa, assenta o joelho em terra e desata a disparar. É o Manuel Buíça com a sua Winchester, que se colocou à retaguarda da carruagem a cerca de cinco a oito metros de distância abrindo fogo sobre o rei. Logo ao primeiro tiro acerta no pescoço de D. Carlos, quebrando-lhe a coluna vertebral e matando-o instantaneamente.
Outros tiros soam pelo Terreiro do Paço que se transforma num campo de batalha, enquanto o Buíça continua implacável na sua acção. Dispara um segundo tiro atingindo o ombro esquerdo do monarca que cai para a direita sobre a rainha.
Estabelece-se a confusão do pânico. Vejo o príncipe D. Luís Filipe levantar-se e apontar o seu Colt, de calibre 38, mas, antes de poder disparar, já o Costa abria fogo sobre ele, atingindo-o na região do externo atravessando-lhe o pulmão.
Embora ferido, o príncipe consegue ainda disparar quatro tiros sobre o regicida, que caiu por terra, onde é morto à espadeirada e a tiro pela polícia.
Entretanto, o Buíça continua a disparar, e, revelando uma pontaria espantosa, atinge o príncipe na cabeça. A bala atravessa-lhe a face esquerda, saindo-lhe pela nuca. O príncipe tomba na bancada da frente. Estoiram mais tiros, quase simultâneos, cinco, dez. O infante, ao amparar o irmão, é atingido num braço por um projéctil. A rainha esforça-se por acudir aos filhos, recebendo nos braços o cadáver do marido. O cocheiro, ferido numa das mãos, lança os cavalos à desfilada.
No meio da maior confusão, o landau real procura abrigo no Arsenal, enquanto os restantes carros da comitiva largam à desfilada em todas as direcções.
D. Carlos está morto.
- E o príncipe? - pergunta alguém.
- Está morto também.

1 comentário:

Unknown disse...

Caro Ceolino, Já que tem interesse nestes temas, permito-me de lhe sugerir o livro "Real Panteão dos Bragança: arte e memória" (Dez, 2006: ISBN 972-99612-9-8) onde encontrará um original estudo sobre esta e outras matérias relacionadas. Serei suspeito para recomendar mas nada como ver por si próprio...Um abraço e felicidades!