Olhando para as mais diversas listagens estatísticas sobre a educação no mundo, os nossos governantes vão concluindo que Portugal anda no fundo dessas listagens da qualidade civilizacional.Apesar de ter havido um forte investimento nas infra-estruturas, na formação contínua e na formação inicial, continuamos a patentear valores inferiores à média mundial, já para não falar da média europeia.As culpas são sempre fáceis de atribuir. Os docentes são as primeiras vítimas dos números, acompanhados pelas famílias e acolitados pelos alunos. Claro que a televisão e os computadores também assumem umas fatias generosas das acusações. Ah! E os manuais são acusados de erros científicos e de excessos gráficos e volumétricos.Estranhamente, nunca se acusam os governos...Já foi dito antes e repito: nenhum ministro esteve o tempo suficiente no poder para compreender as consequências de algumas das suas decisões e políticas. Fazer chover dinheiro na educação não é sinónimo de resultados positivos. Fazer escolas e abandoná-las, não as dotando de capacidade para se manterem razoáveis, não é uma forma de dotar as comunidades de edifícios para o presente e futuro. Criar estruturas de formação e não acompanhar a qualidade dos produtos realizados não é forma de garantir uma formação de qualidade. Criar diplomas legais e não saber se são aplicados nas escolas, não é o caminho para a defesa da qualidade do ensino. Criar um currículo nacional e não fazer a sua validação nacional, todos os anos, não é uma forma de garantir o sucesso desse currículo.Decorre da natureza humana a luta pelo mais fácil e mais cómodo. Se não houver a necessidade de garantir o sucesso dos alunos, validado por exames nacionais, os docentes vão gerindo os programas da melhor forma, tendo consciência de que ninguém irá avaliar o seu trabalho.A decisão de estabilizar o corpo docente nas escolas será o primeiro passo corajoso para criar condições de serenidade para a execução de projectos a médio prazo. A decisão de aumentar a ponderação dos exames nacionais do 9ºano poderá ajudar a incrementar a qualidade do ensino no ensino básico.Faltará introduzir mais validações nacionais: o 1º Ciclo do Ensino Básico anda em roda livre há demasiados anos. Ninguém presta contas a ninguém. Os alunos são avaliados de forma ligeira e “simpática”, por vezes por diversos docentes ao longo do mesmo ano lectivo. Insiste-se demasiadamente no elemento “criatividade” nesta fase da vida da crianças, esquecendo o basilar: saber ler, escrever, compreender e contar, bem. Muito bem, aliás. Uma grande parte dos alunos do 1º Ciclo cumpre 4 anos de escolaridade primordial sem qualquer esforço de aprendizagem verdadeira. Aprendem “algumas coisas” e “dão uns toques” na leitura. Os governos criaram umas formas de avaliação genérica e envergonhada com as provas de aferição. Eles conhecem bem esses resultados e já deveriam ter iniciado o tratamento da doença que nos afecta há alguns anos.Claro que há excepções no sistema. Honrosas excepções. Mas nós não precisamos de excepções... precisamos de regras.Os alunos dos 2º Ciclo do Ensino Básico vivem 2 anos de grande felicidade, sendo avaliados de forma relativamente ligeira. Há docentes que defendem o sucesso dos seus alunos com base na sua “criatividade” e não nos seus conhecimentos consolidados. Há alunos que mal sabem ler e escrever... mas sabem fazer umas colagens. Passe-se... pró ano que o aturem... Vamos fazer uns trabalhos de campo! Ninguém sabe para quê nem porquê. Façam-se! Podem ser úteis. Mesmo que nenhum dos alunos consiga redigir correctamente um texto a explicar o que foi feito nesse trabalho de campo... mesmo que nem consigam perceber uma tabela com os resultados desse trabalho de campo...Ou seja: o telhado está bem feito, mas os alicerces ficaram algures.Temos essa doença da pressa universitária... alguns docentes querem ter alunos com espaço universitário num corpo de criança desejosa de aprender regras básicas e que lhe possam servir de base de construção do seu saber. Faz-nos lembrar o voluntarismo de alguns salva-vidas prematuros que se atiram ao mar para salvar o mundo e morrem afogados... a máxima é: quem não sabe, não salva...O 3º Ciclo do Ensino Básico já vai denotando algumas transformações subtis, provocadas pelo aparecimento dos Exames Nacionais do Ensino Básico. Os docentes, muito lentamente, vão-se apercebendo de que a comunidade os está a avaliar. Ainda há muito ruído nesta validação e ainda há gente que assobia para o ar e atira as culpas para os anos anteriores. Mas, a grande maioria dos docentes já vai compreendendo que a sua acção tem consequências na vida dos seus alunos.A formação das crianças e jovens de Portugal exige muita serenidade e competência. De nada nos valerá o aumento das certificações do ensino básico - sejam elas através do sistema formal de ensino, dos RVCC, dos CEF, dos EFA’s, ou de quaisquer outros modelos existentes – se os alunos continuarem a não possuir os alicerces que lhes permitam continuar o seu crescimento como cidadãos empenhados e competentes nas suas áreas.
Certifiquemos, pois, o nosso país. Criemos todos os modelos de certificação possíveis para que o maior número de cidadãos detenham o maior número possível de habilitações. Mas, que haja alguém a validar o que andamos a certificar em cada ciclo, em cada ano.
E essa responsabilidade só pode ser do Governo.
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