Citador

22 agosto, 2008

Uma história que se repete ao sabor da incompetência.

Do espaço "A Revolta das Palavras" de José António Barreiros
"Uma pessoa entra na urgência do Hospital Amadora Sintra pelas 18:00, para ali transportada pelo INEM, o serviço de emergência médica. Queixa-se de uma dor no peito e de um agonia na zona do coração. Seis horas depois é, enfim, atendida por um médico, para uma observação que não chega a durar um minuto. Segue para recolha de sangue e um electrocardiograma. Feito este, diagnosticam, de súbito, um enfarte em curso há horas. A lentidão transforma-se agora em pressa, o desinteresse em preocupação: surgem, das entranhas do corredor, um monitor cardíaco, um disfribilhador, oxigénio, soro.
Essa pessoa está internada nos cuidados intensivos. Tem 85 anos de idade.
Seis horas depois de ter entrado na urgência hospitalar, a urgência viu que, afinal, era urgente.
Podia ser a história de toda a gente que tem a desgraça de nascer em Portugal e de acreditar nas reformas do Serviço Nacional de Saúde. No caso é a minha mãe.
Quando pelas onze e meia fui saber o que se passava, uma feroz funcionária atendia aos rompantes uma jovem mãe, negra, o filhito ao colo assustado sem saber que para além do medo que sentia, deveria ter medo, sim, mas do lugar onde estava. No corredor dois médicos conversavam tranquilos, a longa noite da indiferença prosseguia o seu ritmo."
»«
Uma história em tudo semelhante a milhares de outras que diariamente se passam nesse bendito Hospital.
Quem com um pouco de sorte, consegue entrar nos meandros desse hospital, vai conseguir encontrar aberrações enormes. Desde profissionais que passam o seu turno a dormir ou a fumar em salinhas no interior do hospital, até médicos que fazem do espaço consultório privado atendendo os seus pacientes á frente de todos aqueles que sofrem durante penosas horas em salas de espera, em pé, muitas vezes sem ventilação, passando por funcionários mal preparados para trabalhar com o sofrimento dos outros suficiente, fazendo das urgências o calvário que infelizmente muitos de nós conhecem.
Eu vivi esta realidade durante dois penosos anos, os últimos da vida de minha mãe, falecida em Janeiro de 2005.

Sem comentários: