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07 setembro, 2006

Refrescar a alma num verão quente. Como era antes do frigorifico?


Só a partir do século XVII é que as bebidas e doces gelados se tornaram um hábito na sociedade portuguesa. A dificuldade em obter neve foi um dos motivos para tão tardio hábito, quando nas cortes europeias há muito se conhecia e apreciava o gelado. Com Filipe II de Espanha no trono português, Lisboa não podia manter-se indiferente à cada vez mais famosa sobremesa. Surgiu assim uma nova profissão – a de neveiro, ou seja, os comerciantes que iam à Serra da Estrela buscar a preciosa neve. O município lisboeta concedia autorizações para a venda de neve por um período de 6 anos, ficando os neveiros obrigados a fornecê-la ao longo de todo o ano. No início de cada Outono, os neveiros desentupiam os covões da Serra da Estrela, onde recolhiam e acondicionavam o gelo. Sucedia-se a odisseia da viagem até Lisboa, pelas escassas estradas de então. Evitando as horas de calor, o transporte era geralmente feito em diversas etapas nocturnas, nos costados dos animais, de carroça e de barco. Uma viagem que encarecia o preço final do produto, mal chegava à capital. Pelos vistos, o alto custo do gelado não provocou menos procura. Em 1732, João Baptista Livre é mandado à Serra da Estrela por ordem do rei, para ver os poços de neve e fazer mais alguns, se necessário fosse. Chegados a Lisboa, os blocos de gelos eram mantidos em dois poços, um deles na torre Norte do Castelo de São Jorge, construídos sob a orientação do arquitecto João Baptista Ramos, em 1732. A Serra de Montejunto, nos arredores de Sintra, mostra-se mais apta a conservar o gelo. Aqui irá surgir uma verdadeira fábrica e armazém de neve, que leva seis anos a construir. Dela constam poços para guardar e conservar neve, tanques para fazer gelo e poços de água.

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