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07 julho, 2006

Regimento de Artilharia da Serra do Pilar


Hoje, fui confrontado na imprensa nacional com a morte de um soldado português. A minha primeira reacção, foi que um dos nossos militares que se encontram destacados fora do país, em missão de paz, havia morrido.
Erro meu. O que aconteceu, foi simplesmente mais uma morte por incúria, a morte de um jovem que prestava serviço ao estado Português.
Este incidente ocorreu no R.A-5 antigo R.A.S.P. (Regimento de Artilharia da Serra do Pilar) em Vila Nova de Gaia, por acaso, um quartel que eu conheço muito bem, foi o local onde prestei o meu serviço militar, então obrigatório, durante um ano e meio no quadro de Oficiais Milicianos, logo um dos privilegiados.
Durante esse período da minha vida, que foi como um período de férias, pude observar por dentro o funcionamento as nossas forças armadas.
Desde viaturas que serviram na guerra colonial, com matriculas do inicio dos anos sessenta, até pessoas mal preparadas para as conduzir, passando por uma insignificante assistência mecânica, sempre prestada por soldados apenas bem preparados para o toque de saída as cinco horas da tarde (não os critico pois alguns tinham família cá fora, e com o salário que recebiam no fim do mês, de cinco mil escudos ( 25 €) , eu teria feito o mesmo, muitos deles provenientes de aldeias próximas do Porto, iam trabalhar após as cinco horas da tarde para sustentar os filhos . Lembro que o salário mínimo nacional em 1989 rondava os quarenta e cinco a cinquenta mil escudos (250 € )).
Foi nessa altura que me apercebi que, os soldados portugueses, provenientes do serviço militar obrigatório, eram uma fonte de receitas para o estado português. Pois eles mantinham o equipamento (algum bastante sofisticado, não estou somente a falar de viaturas) a funcionar contra um pagamento de cinco mil escudos por mês. Equipamento que em alguns casos custava uma pequena fortuna, mantinham também as instalações em bom funcionamento, passando dias e dias a caiar as paredes que estavam caiadas, a capinar (importantíssima função militar de arrancar ervas dos passeios e da parada, muitas vezes sob o sol escaldante ou sob a chuva torrencial) sujeitando-se a estas ‘praxes’ que só nas forças armadas são possíveis.
Não me admira pois, que uma das viaturas tenha ficado sem travões e se tenha ‘despencado’ pela acentuada descida, em direcção á porta de armas. Talvez tenha sido o UMM que normalmente saía de madrugada para ir buscar o pão fresco para o pequeno almoço e que normalmente era a viatura mais mal preparada do quartel.
É claro que também é possível eu estar errado, pois já passaram dezassete anos e as viaturas já podem ter sido substituídas (hummmm).
Louvo realmente quem pretende alterar as forças armadas, equipando, racionalizando e modernizando, acabando com regalias e senhores generais sentados em gabinetes, a gerir o seu chorudo ordenado. É lógico que a mudança custa dinheiro, mas se o fizerem, a médio prazo vamos colher os lucros, teremos forças armadas ajustadas á nossa real necessidade, com menos homens e encargos, mais eficiente e talvez assim poder evitar acidentes como o que levou a vida a este jovem.
CeOl

1 comentário:

Nitroito disse...

ao fim de 2anos e meio li este artigo...

concordo plenamente com as suas palavras, tambem la se4rvi serviço militar e tb comprovei esses "simples factos", de os soldados de serviço obrigatório serem "usados" como mao de obra barata pra manter as instalações, equipamentos e adicionalmente prestarem serviços praticamente gratuitos esses ricos oficiais :|

ASS: João Carlos, ALGARVE