Inês Pires de Castro era filha bastarda de D. Pedro Fernandez de Castro, poderoso fidalgo castelhano, e irmã de D. Fernando e de D. Álvaro Pires de Castro, senhores de grande poder político e senhorial.
A jovem veio para Portugal em 1340, integrada no séquito da princesa D. Constança Manuel, filha de D. João Manuel, respeitável opositor do então Rei de Castela, D. Afonso XI, aquando da celebração do casamento de D. Constança com D. Pedro, filho de D. Afonso IV, Rei de Portugal. O casamento, de conveniência, objectivava acalmar a exaltação dos monarcas, D. Afonso IV e D. Afonso XI, reis em permanente conflito, em estado de guerrilha mútua.
D. Pedro, homem de natureza impetuosa e independente, apaixonou-se pela bela Inês, apelidada pelos poetas de "colo de garça". Ela passou a ser a alma gémea que o levou a desprezar as convenções cortesãs e a desafiar frontalmente tudo e todos. E, após a morte de D. Constança por ocasião do parto de seu filho D. Fernando, futuro sucessor de D. Pedro no trono de Portugal, o Infante assumiu, às claras, a ligação existente, indo mesmo viver com ela no Paço da Rainha, em Santa Clara, Coimbra. Nem a tentativa de D. Afonso IV em fazer abortar a ligação, exilando Inês de Castro no castelo de Albuquerque à vista de Ouguela na estremadura espanhola, dera resultado, tal como não colhera melhor sorte o exílio na Serra de El-Rei, Moledo, Canidelo (próximo de Gaia).
A Corte que permanecia, frequentemente, na cidade do Mondego, não via com agrado as relações entre os dois amorosos. Considerava a ousadia uma afronta. Entendia-se que a ligação era indecorosa pelos problemas morais e religiosos que levantava, bem como do perigo que trazia para o reino em virtude da influência da família dos Castros, que se insinuava junto do Infante. As intrigas do Rei apressavam o monarca a agir. Desta forma, a teia à volta de Inês avolumava-se, apesar de ela viver, despreocupadamente, o seu idílio com Pedro nas bucólicas margens do Mondego.
As peças do complicado xadrez iam-se ajustando para o desenlace final. D. Afonso IV compreendia as razões que o impeliam a tomar uma decisão, mas hesitava. Contudo, chegou a hora do veredicto. Reuniu o seu Conselho em Montemor-o-Velho para analisar a atitude a tomar. Entre os conselheiros contavam-se Diogo Lopes Pacheco, Álvaro Gonçalves e Pero Coelho. A reunião constituiu, na prática, um julgamento, em que o acusado não esteve presente. El-Rei decidiu pela execução de Inês. E, na fria manhã de 7 de Janeiro de 1355, quando a neblina do rio ainda não se havia dissipado, o executor régio, aproveitando a ausência do Infante para as suas habituais caçadas, penetrou no passo e ali decapitou "aquela que depois de morta foi rainha".
D. Pedro, ao receber a notícia ficou irado. Quando ascendeu ao trono, com a idade de 37 anos, passados dois sobre a trágica morte, pensou que chegara a hora do ajuste de contas.
Reinava, então, em Castela, D. Pedro, "O Cruel". Tinha muitos inimigos. Espalhava a violência e persegui os seus opositores. Para conseguir capturá-los celebrou um tratado com D. Pedro, em que os dois monarcas se comprometeram a prender os exilados dos dois reinos e a sua entrega mútua na fronteira. Os portugueses visados eram os conselheiros de D. Pedro IV que influenciaram a decisão do rei. A troca de prisioneiros castelhanos e portugueses efectuou-se. Os castelhanos foram supliciados em Sevilha e os portugueses, Álvaro Gonçalves e Pero Coelho, em Santarém. Diogo Pacheco salvou-se, segundo a tradição, porque foi avisado por um mendigo a quem dava esmola, de que ia ser preso. Trocou a roupa com o pobre e escapou-se para Aragão e daí para França. A tradição popular deu-o, mais tarde, a viver no Piodão, Arganil.
Pero Coelho, mandou-lhe tirar o coração pelo peito e a Álvaro Gonçalves pelas espáduas, já que os considerou homens sem coração.
Saciada a sede de vingança, D. Pedro ordenou a transladação do corpo de Inês desde a campa modesta em Coimbra, para um túmulo delicadamente lavrado que mandou colocar no Mosteiro de Alcobaça. O féretro teve honras de algo diferente e majestoso. O caixão saído de Santa Clara, trazido por cavaleiros, foi acompanhado por fidalgos e muita população, clero e donzelas. Ao longo do trajecto homens empenhavam círios que estavam dispostos de tal maneira que sempre o corpo de Inês caminhou por entre círios acesos. No mosteiro celebraram-se muitas missas e outras cerimónias e com grande solenidade o caixão foi depositado no monumento tumular.
Posteriormente, D. Pedro mandou executar outra arca tumular, semelhante em arte ao da sua amada, colocando-a ao lado e nela quis ficar sepultado. E, até aos dias de hoje, os dois eternos namorados repousam juntos, separados pela pedra mas unidos pelo amor que não tem fim.
Procurando dignificar o nome da sua amada, D. Pedro, declarou, apresentando testemunhas (D. Gil, bispo da Guarda, e Estevão Lobato, seu criado), que sete anos antes casara com ela em Bragança. A afirmação pública foi proferida em Cantanhede a 12 de Junho de 1360, quando se encontrava naquela povoação.
Inês de Castro imortalizada em poemas de espectacular beleza e sensualidade, revivida em numerosos escritores de diversas línguas, enaltecida em composições musicais de rara sonoridade, recriada por pintores, escultores de todo o mundo, continua pródiga em alimentar homens e mulheres das ciências, das letras e das artes. Uma dama que ultrapassou as fronteiras físicas e culturais, que projectou Coimbra, dimensionando o mito criado à volta da sua história, envolvendo a própria cidade, permanece uma aura lendária transportada a outras idades e lugares.
(Mário Nunes, "Nos Caminhos do Património II", 1995, ps. 126/128)
A jovem veio para Portugal em 1340, integrada no séquito da princesa D. Constança Manuel, filha de D. João Manuel, respeitável opositor do então Rei de Castela, D. Afonso XI, aquando da celebração do casamento de D. Constança com D. Pedro, filho de D. Afonso IV, Rei de Portugal. O casamento, de conveniência, objectivava acalmar a exaltação dos monarcas, D. Afonso IV e D. Afonso XI, reis em permanente conflito, em estado de guerrilha mútua.
D. Pedro, homem de natureza impetuosa e independente, apaixonou-se pela bela Inês, apelidada pelos poetas de "colo de garça". Ela passou a ser a alma gémea que o levou a desprezar as convenções cortesãs e a desafiar frontalmente tudo e todos. E, após a morte de D. Constança por ocasião do parto de seu filho D. Fernando, futuro sucessor de D. Pedro no trono de Portugal, o Infante assumiu, às claras, a ligação existente, indo mesmo viver com ela no Paço da Rainha, em Santa Clara, Coimbra. Nem a tentativa de D. Afonso IV em fazer abortar a ligação, exilando Inês de Castro no castelo de Albuquerque à vista de Ouguela na estremadura espanhola, dera resultado, tal como não colhera melhor sorte o exílio na Serra de El-Rei, Moledo, Canidelo (próximo de Gaia).
A Corte que permanecia, frequentemente, na cidade do Mondego, não via com agrado as relações entre os dois amorosos. Considerava a ousadia uma afronta. Entendia-se que a ligação era indecorosa pelos problemas morais e religiosos que levantava, bem como do perigo que trazia para o reino em virtude da influência da família dos Castros, que se insinuava junto do Infante. As intrigas do Rei apressavam o monarca a agir. Desta forma, a teia à volta de Inês avolumava-se, apesar de ela viver, despreocupadamente, o seu idílio com Pedro nas bucólicas margens do Mondego.
As peças do complicado xadrez iam-se ajustando para o desenlace final. D. Afonso IV compreendia as razões que o impeliam a tomar uma decisão, mas hesitava. Contudo, chegou a hora do veredicto. Reuniu o seu Conselho em Montemor-o-Velho para analisar a atitude a tomar. Entre os conselheiros contavam-se Diogo Lopes Pacheco, Álvaro Gonçalves e Pero Coelho. A reunião constituiu, na prática, um julgamento, em que o acusado não esteve presente. El-Rei decidiu pela execução de Inês. E, na fria manhã de 7 de Janeiro de 1355, quando a neblina do rio ainda não se havia dissipado, o executor régio, aproveitando a ausência do Infante para as suas habituais caçadas, penetrou no passo e ali decapitou "aquela que depois de morta foi rainha".
D. Pedro, ao receber a notícia ficou irado. Quando ascendeu ao trono, com a idade de 37 anos, passados dois sobre a trágica morte, pensou que chegara a hora do ajuste de contas.
Reinava, então, em Castela, D. Pedro, "O Cruel". Tinha muitos inimigos. Espalhava a violência e persegui os seus opositores. Para conseguir capturá-los celebrou um tratado com D. Pedro, em que os dois monarcas se comprometeram a prender os exilados dos dois reinos e a sua entrega mútua na fronteira. Os portugueses visados eram os conselheiros de D. Pedro IV que influenciaram a decisão do rei. A troca de prisioneiros castelhanos e portugueses efectuou-se. Os castelhanos foram supliciados em Sevilha e os portugueses, Álvaro Gonçalves e Pero Coelho, em Santarém. Diogo Pacheco salvou-se, segundo a tradição, porque foi avisado por um mendigo a quem dava esmola, de que ia ser preso. Trocou a roupa com o pobre e escapou-se para Aragão e daí para França. A tradição popular deu-o, mais tarde, a viver no Piodão, Arganil.
Pero Coelho, mandou-lhe tirar o coração pelo peito e a Álvaro Gonçalves pelas espáduas, já que os considerou homens sem coração.
Saciada a sede de vingança, D. Pedro ordenou a transladação do corpo de Inês desde a campa modesta em Coimbra, para um túmulo delicadamente lavrado que mandou colocar no Mosteiro de Alcobaça. O féretro teve honras de algo diferente e majestoso. O caixão saído de Santa Clara, trazido por cavaleiros, foi acompanhado por fidalgos e muita população, clero e donzelas. Ao longo do trajecto homens empenhavam círios que estavam dispostos de tal maneira que sempre o corpo de Inês caminhou por entre círios acesos. No mosteiro celebraram-se muitas missas e outras cerimónias e com grande solenidade o caixão foi depositado no monumento tumular.
Posteriormente, D. Pedro mandou executar outra arca tumular, semelhante em arte ao da sua amada, colocando-a ao lado e nela quis ficar sepultado. E, até aos dias de hoje, os dois eternos namorados repousam juntos, separados pela pedra mas unidos pelo amor que não tem fim.
Procurando dignificar o nome da sua amada, D. Pedro, declarou, apresentando testemunhas (D. Gil, bispo da Guarda, e Estevão Lobato, seu criado), que sete anos antes casara com ela em Bragança. A afirmação pública foi proferida em Cantanhede a 12 de Junho de 1360, quando se encontrava naquela povoação.
Inês de Castro imortalizada em poemas de espectacular beleza e sensualidade, revivida em numerosos escritores de diversas línguas, enaltecida em composições musicais de rara sonoridade, recriada por pintores, escultores de todo o mundo, continua pródiga em alimentar homens e mulheres das ciências, das letras e das artes. Uma dama que ultrapassou as fronteiras físicas e culturais, que projectou Coimbra, dimensionando o mito criado à volta da sua história, envolvendo a própria cidade, permanece uma aura lendária transportada a outras idades e lugares.
(Mário Nunes, "Nos Caminhos do Património II", 1995, ps. 126/128)
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