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29 outubro, 2006

Maus pais? Pais maus? Para reflexão.


Deus abençoe os pais maus!

Um dia quando os meus filhos forem crescidos o suficiente para entenderem a lógica que motiva um pai, eu hei-de dizer-lhes:

-Amei-vos o suficiente para ter insistido para que juntassem o vosso dinheiro e comprassem uma bicicleta, mesmo que eu tivesse a possibilidade de a comprar.
-Amei-vos o suficiente para ter ficado em pé junto de vós, duas horas, enquanto limpavam o vosso quarto – trabalho que eu teria feito em quinze minutos.
- Amei-vos o suficiente para vos obrigar a pagar as pastilhas que ‘tiraram’ da mercearia e dizer ao dono: eu roubei isto ontem e hoje queria pagar.
- Amei-vos o suficiente para ter ficado em silêncio, para vos deixar descobrir que o vosso novo amigo não era boa companhia.
- Amei-vos o suficiente para vos deixar assumir a responsabilidade das vossas acções, mesmo quando as penalizações eram tão duras que me partiam o coração.
-Amei-vos o suficiente para vos ter perguntado: onde vão, com quem vão e a que horas regressam a casa
- Amei-vos o suficiente para vos deixar ver fúria, desapontamento e lágrimas nos meus olhos.
- Mas acima de tudo, eu amei-vos o suficiente para vos dizer NÃO, quando sabia que me iriam odiar por isso.
Estou contente. Venci, porque no final vocês também venceram. E qualquer dia, quando os vossos filhos forem suficientemente crescidos para entenderem a lógica que motiva os pais, vocês irão dizer-lhes, quando eles vos perguntarem, se os vossos pais eram maus, que sim, que eram os piores pais do mundo! Porque:
-Enquanto os outros miúdos comiam doces ao pequeno-almoço, nos tínhamos cereais, tostas e ovos.
-Os outros miúdos bebiam Pepsi ao almoço e comiam batatas fritas, enquanto nós tínhamos que comer sopa, prato e fruta. E não vão acreditar! Os nossos pais obrigavam-nos a jantar à mesa, o que era bem diferente dos outros pais.
-Os nossos pais insistiam em saber onde nos estávamos a todas as horas, era quase uma prisão. Tinham que saber quem eram os nossos amigos e o que fazíamos com eles.
-Insistiam em que lhes disséssemos que íamos sair mesmo que demorássemos só uma hora ou menos.
-Nós tínhamos vergonha de admitir mas eles violaram uma data de leis do trabalho infantil: nós tínhamos que fazer as camas, lavar a loiça, aprender a cozinhar, aspirar o chão, engomar a nossa roupa, ir despejar o lixo e todo o tipo de trabalhos cruéis. Eu acho que eles nem dormiam, a pensar em mais coisas para nos mandarem fazer.
-Eles insistiam connosco para que lhes dizermos a verdade, apenas a verdade, sempre a verdade.
-Na altura da nossa adolescência eles conseguiam ler os nossos pensamentos o que tornava a vida muito chata.
-Os nossos pais não deixavam os nossos amigos buzinarem para nós descermos. Tinham que subir, bater á porta para eles os conhecerem.
-Enquanto toda a gente podia sair com doze ou treze anos, nós tínhamos que esperar pelos dezasseis.
-Por causa dos nossos pais, nós perdemos experiências fundamentais da adolescência: nenhum de nós esteve alguma vez envolvido em actos de vandalismo, roubos, violação de propriedade, nem foi preso por algum crime.
Foi tudo por causa deles.
Agora que saímos de casa, somos adultos, honestos e educados, estamos a fazer o nosso melhor para sermos ‘maus pais’ tal como os nossos foram.
Eu acho que este é um dos males do mundo de hoje:
NÃO HÁ SUFICIENTES MAUS PAIS.
-.-
Este texto foi disponibilizado aos pais cujos filhos frequentam o Jardim-de-infância Popular no Cacem quando da reunião com os Educadores.
Eu já tinha ouvido falar deste texto, reproduzo aqui o mesmo porque o acho de uma subtileza extraordinária.
Dedico tambem este texto ao meu pai e à minha mãe, falecida em 05/01/2005 pelo extraordinario trabalho que tiveram para educar os dois filhos.
A eles o meu obrigado pela educação, valores e principios de vida que nos transmitiram.

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