«Em Portugal começa a tomar forma aquilo a que chamo a "geração sandwich". Estou a falar da geração de activos que cuida dos filhos - que já deviam ser independentes mas não são - e cuida, igualmente, dos pais - que antes morriam e agora estão vivos - e em más condições, com pouca ou nenhuma qualidade de vida e alto grau de dependência.(…)
Também nesta geração, o número de mulheres que trabalham a tempo inteiro fora de casa, em Portugal, é o mais elevado da Europa.
(…)
Ainda acontece, cada vez com mais frequência, que filhas já na terceira idade sejam as únicas "cuidadoras" de ascendentes portadores de doença neurodegenerativas.(…)
Os mais novos não vivem o seu tempo de oportunidades. Cidadãos de uma sociedade global caracterizada pela sua instabilidade, precariedade e competitividade, ficam pendurados na casa dos pais, dependentes, tal como os avós, sem préstimo, também eles "cuidados" e inactivos. Porque não têm emprego, porque não entram nas faculdades, porque não conseguem comprar casa, porque nada do que fizeram lhes serviu.(…)
Mas são eles os herdeiros da dívida, que é isso que lhes vamos deixar, grande dívida para pagar, grande carga geracional.
(…)
E, além disto, ainda pode acontecer que a "geração sandwich" - que durante alguns anos segurou descendentes e ascendentes - não venha a ter a sua reforma pelo estoiro puro e simples do sistema de Segurança Social, de cuja sustentabilidade não se cuida, perdidos que estamos em eternas tertúlias maniqueístas de um "bem" e de um "mal" totalmente obsoletos. Esta ameaça é tão mais forte quanto as reformas da "geração sandwich" que constituem a única dívida do Estado que, podendo juridicamente ser posta em causa, é passível de servir como variável de ajustamento.
(…)
O que (…) é o que acontece nas casas desmazeladas, onde se gasta e não se mantém: uma canalização rota, a verter água em inúmeros pontos, mas perante esta situação que se faz? Vai-se fechando a torneira, devagar, devagarinho. A água continua a perder-se, mas os que precisam de beber água, encherão, cada vez menos, o seu copo, se chegarem à torneira...(…)
A única que segura, com os braços cansados, ascendentes e descendentes sem qualquer rede de serviços de apoio que em outros países os Estados há muito já criaram, a que vai contribuindo com os seus impostos para pagar a despesa pública e que, imprevidentemente, é desconsiderada a ponto de, voltando a Chesterton, não lhe ser dada voz, sequer, para formular a pergunta óbvia: então e nós? »
.
Também nesta geração, o número de mulheres que trabalham a tempo inteiro fora de casa, em Portugal, é o mais elevado da Europa.
(…)
Ainda acontece, cada vez com mais frequência, que filhas já na terceira idade sejam as únicas "cuidadoras" de ascendentes portadores de doença neurodegenerativas.(…)
Os mais novos não vivem o seu tempo de oportunidades. Cidadãos de uma sociedade global caracterizada pela sua instabilidade, precariedade e competitividade, ficam pendurados na casa dos pais, dependentes, tal como os avós, sem préstimo, também eles "cuidados" e inactivos. Porque não têm emprego, porque não entram nas faculdades, porque não conseguem comprar casa, porque nada do que fizeram lhes serviu.(…)
Mas são eles os herdeiros da dívida, que é isso que lhes vamos deixar, grande dívida para pagar, grande carga geracional.
(…)
E, além disto, ainda pode acontecer que a "geração sandwich" - que durante alguns anos segurou descendentes e ascendentes - não venha a ter a sua reforma pelo estoiro puro e simples do sistema de Segurança Social, de cuja sustentabilidade não se cuida, perdidos que estamos em eternas tertúlias maniqueístas de um "bem" e de um "mal" totalmente obsoletos. Esta ameaça é tão mais forte quanto as reformas da "geração sandwich" que constituem a única dívida do Estado que, podendo juridicamente ser posta em causa, é passível de servir como variável de ajustamento.
(…)
O que (…) é o que acontece nas casas desmazeladas, onde se gasta e não se mantém: uma canalização rota, a verter água em inúmeros pontos, mas perante esta situação que se faz? Vai-se fechando a torneira, devagar, devagarinho. A água continua a perder-se, mas os que precisam de beber água, encherão, cada vez menos, o seu copo, se chegarem à torneira...(…)
A única que segura, com os braços cansados, ascendentes e descendentes sem qualquer rede de serviços de apoio que em outros países os Estados há muito já criaram, a que vai contribuindo com os seus impostos para pagar a despesa pública e que, imprevidentemente, é desconsiderada a ponto de, voltando a Chesterton, não lhe ser dada voz, sequer, para formular a pergunta óbvia: então e nós? »
.
Excertos retirados do DN 17/11/2006 em artigo de opinião de Maria José Nogueira Pinto
-.-
Totalmente de acordo, Geração ‘entalada’ para não utilizar termos mais pejorativos.
Pertencemos á geração de todas as alterações, vamos pagar a factura da incompetência que os sucessivos governos ante e pós 25 de Abril nos legaram.
Não tivemos direito a um sistema de ensino de qualidade, não tivemos direito a um sistema judicial de qualidade, não tivemos direito a estabilidade de emprego para constituir familia, não tivemos qualidade de saúde, não teremos qualquer oportunidade de fugir ao que nos espera na nossa 3ª idade, Vamos ter de apoiar os nossos filhos até á sua independência tardia porque também eles não vão poder estabilizar. Vamos ter de prestar todos os cuidados sanitários e morais aos nossos pais sem qualquer ajuda do estado social tão abertamente apregoado durante anos e anos.
Porra, que será de nós! os que hoje lutamos para garantir as reformas dos tipos que nos lixaram durante todos estes anos.
Ainda vamos ter de reembolsar o estado se por acaso morrermos antes de atingir a idade associada á esperança média de vida?
Pertencemos á geração de todas as alterações, vamos pagar a factura da incompetência que os sucessivos governos ante e pós 25 de Abril nos legaram.
Não tivemos direito a um sistema de ensino de qualidade, não tivemos direito a um sistema judicial de qualidade, não tivemos direito a estabilidade de emprego para constituir familia, não tivemos qualidade de saúde, não teremos qualquer oportunidade de fugir ao que nos espera na nossa 3ª idade, Vamos ter de apoiar os nossos filhos até á sua independência tardia porque também eles não vão poder estabilizar. Vamos ter de prestar todos os cuidados sanitários e morais aos nossos pais sem qualquer ajuda do estado social tão abertamente apregoado durante anos e anos.
Porra, que será de nós! os que hoje lutamos para garantir as reformas dos tipos que nos lixaram durante todos estes anos.
Ainda vamos ter de reembolsar o estado se por acaso morrermos antes de atingir a idade associada á esperança média de vida?
Sem comentários:
Enviar um comentário