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19 novembro, 2006

As Unhas do Diabo - Lenda de Ponte de Lima


Em tempos que já lá vão, os sinos de Ponte de Lima começaram a tocar a finados pela morte de um célebre escrivão. Pelas reacções da população que progressivamente ia recebendo a notícia, era claro que este desaparecimento não era lamentado, pois o escrivão não era modelo de virtude ou honestidade tendo lesado muitas famílias. Era mesmo sabido que o morto falsificava documentos e aceitava subornos que guardava numa arca escondida no sótão de sua casa. Era do consenso geral que aquela alma não tinha salvação possível e duvidava-se mesmo se teria sequer direito a um enterro cristão. Estava instalada a polémica, quando os frades franciscanos do Convento de Santo António se ofereceram para o sepultar, o que veio a acontecer. Nesse mesmo dia à meia-noite, os franciscanos foram acordados por três sonoras argoladas na porta do convento. Do outro lado da porta, uma voz pedia-lhes para se reunirem na capela pois queria falar-lhes. Quando abriram a porta, um vulto imponente e de olhar penetrante entrou. Os frades assustados reparam que apesar de estar muito bem vestido tinha um pés estranhos, chanfrados como os das cabras. O visitante dirigiu-se à capela onde estava sepultado o escrivão e parando à frente da sua sepultura, levantou a laje, retirou o corpo amortalhado e fez com que este vomitasse a hóstia que tinha na boca. Transformando-se num vulto negro e temível, elevou-se no ar com o corpo do defunto e saiu por uma janela com um grande estrondo. A comunidade correu para o adro, ainda a tempo de ver os dois corpos unirem-se num só e voarem pelos céus com uma risada diabólica, deixando atrás de si um rasto de cheiro a queimado.

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